quarta-feira, 17 de novembro de 2010

DESLOCAMENTOS


Na busca de ‘parecer’, olhamos atentamente ao redor e escolhemos aquele que irá servir de modelo de realização e construção do nosso exterior e que melhor representará o nosso subjetivo. Na informalidade, buscaremos nas pessoas de nosso convívio mais próximo referenciais; num segundo momento as referências são mais elaboradas: `habitam novos endereços`; encontramos também um grupo que busca inspiração em grupos e pessoas que falam de um mundo próprio, são discursos de indivíduos que inspiram os grandes criadores, são estes os detentores da grande imaginação e da grande moda. Cultivadores da fantasia humana, representam no social, valores e poderes sonhados e desejados.

Nas Passarelas , - em que as grandes empresas apresentam de forma teatral e lúdica uma profusão de cores e formas em `looks` extravagantes, inspirados em múltiplos cenários e movimentos,  acabam  prescrevendo regras e dando ritmo ao mercado de consumo. 

Baseada essencialmente na imagem, a sociedade na qual estamos completamente imersos, utilizando-se do indivíduo, comunica e significa oferecendo ao mundo um espetáculo tecido por uma multiplicidade de componentes subjetivos. Cada referência é atravessada por contextos culturais, políticos, econômicos, científicos, afetivos, familiares, etc.  A subjetividade individual, porém – mais comumente chamada de ‘sujeito’ – não deve ser vista como um recipiente no qual todos esses componentes seriam interiorizados, mas sim como uma costura  de mundos em movimentos 

Tratada como a escrita pela qual o homem se inscreve no social, a imagem que projetamos, ao mesmo tempo em que  individualiza grupos e indivíduos, também constrói relações que flutuam no tempo, diferenciando, reafirmando e deslocando poderes de grupos que cultuam hábitos e pontos de vista diferenciados sobre o que chamamos de humano.

A diversidade de caminhos que nos possibilitam uma leitura do homem contemporâneo, que apresenta parte do que é, ou do que acredita ser, ou ainda como signos que sinalizam para um futuro incerto, permeado por diferentes culturas visuais, num sincretismo ainda pouco explorado em que movimentos são deslocados delineando novos cenários negociamos nossa imagem: o outro é nossa destinação: sem o outro somos uma imagem sem reflexo.Esse homem que ‘negocia’ seu parecer individual com o parecer social gera significados e poderes que se estabelecem na comunicação.

Na busca do `novo` enquanto ideal visual, os desfiles performáticos que são apresentados a cada estação pela grande mídia e pelos indivíduos `solitários` que desfilam pelas ruas, representam papel decisivo na imagem que o homem tenta recriar em seu cotidiano, adaptando e recriando visuais transitórios. 

Enquanto meio de expressão e de significar o individuo no mundo, a moda serve como artifício onde o indivíduo se transforma e se recria a cada instante, encenando e simulando modelos e personagens, construindo  relações  de poder.Na performance, grupos se  edificam num roteiro sem limites e de múltiplas significações.  Do lixo ao luxo, das ruas para as passarelas, a moda constrói e desconstrói, modifica e é  modificada. Lugares provisórios nos são oferecidos: assumi-los? É uma decisão nossa. 
                                                              Oara de Jesus

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