quarta-feira, 24 de novembro de 2010


Comportamento, Moda e Consumo Autoral
Arian Grasmuk e Iáscara Oara de Jesus

           Pensar-se no cenário globalizado enquanto consumidor é um exercício altamente estimulante. Principalmente quando nos deparamos com uma diversidade muito grande de comportamentos que tem-se estabelecido ao longo das décadas apontando para reposicionamentos na medida em que a mídia tem formado e informado esse novo cenário. Essa construção não é aleatória. Ela tem uma lógica que se sucede ao formar gostos e (dês) gostos, ao estruturar linhas de pensamento em novas (re)estruturações, e até mesmo, modificando pensares anteriores.
          Novas tribos e novos jeitos. Novas conexões. Sujeitos e objetos nem sempre transitam nas mesmas vias de pensamento ordenado, de gostos construídos. Os sentidos se reagrupam em novas combinações, onde tramas se constroem continuadamente, ora pela abstração, ora nas concreções das relações sociais, ecológicas, tecnológicas, fashionistas...
         A desterritorialização é eminente e a reconexão necessária. Plugues se entrelaçam nesse trânsito e possibilitam a renovação dos cenários com personagens de identidade marcante e igualmente marcados. Mudanças, (re)criações, simultaneidade, urgência, fazem da sociedade contemporânea um laboratório onde o tudo é possível. Possível enquanto permitido, reordenado e tatuado no Zeitgeist.
          Culturas se aproximam, ou mesmo carregadas pelo Jihad de velhos tempos, dialogam nas diferenças e se estabelecem como tendência comportamental tanto de aceitação quanto de negação. O que lhes é comum a influência mercadológica. Não importa seu posicionamento social. Você certamente será compelido a inserção em um segmento de consumo, onde marcas estabelecem parâmetros e te influenciam estrategicamente fazendo optar por um produto em detrimento de outro.
           A informação chega de maneira incansável renovando repertórios discursivos e balizados pelos sinais contemporâneos que o consumidor projeta.  E esse consumidor é múltiplo. As leituras são complexas.  Memórias são ativadas, gostos resgatados, sentidos revividos. Inovação e experiências transitam pela mesma via. O novo e o velho se aproximam em revivals, em rematerializações com ar retro, repaginando memórias vintage customizadas pelo cruzamento das informações massivas.
           No século 19 houve uma disseminação muito grande de produtos com uma estética apurada. O design se materializou como um diferencial no cotidiano consumista da época. O diferente artístico e utilitário. O tecnológico ou científico. Era a época da elegância e da construção teórica de pensadores que hoje são relembrados e festejados numa tentativa de retomar uma linha de pensamento que aponta para algumas similaridades. E quais seriam elas?
           No fervilhar urbano de então, a busca por um modo de vida mais saudável. Afastado nos seus nichos de prazer, no entanto não estavam desconectados da vida cultural, ou mesmo da predisposição de utilizar as novas tecnologias disponíveis. Nada diferente do que acontece hoje. Necessitamos de toda parafernália tecnológica e cultural que nos apresentam para consumir. Ou pelo menos nos fazem crer nisso. Somos impelidos ao consumo. Mas pesamos, de acordo com nossos  crenças ou que nos creditam, de que devemos viver com mais saúde, com qualidade de vida, conforto, prazeres, conectividade sem perder de vista questões importantes como o aquecimento global, resgates culturais e históricos, preservação e o fomento da manutenção da vida em todos os sentidos. O sujeito, o meio, a sua história e a sua cultura material presente caminham em viés, conectando tudo e a todos num movimento metamorfoseante, onde as estruturas permanecem em aberto e em constante transformação.
                Informação, atitude, e reposicionamentos constantes, transformam esse cenário social e amparam o fenômeno do consumo. Redirecionam produtos, remasterizando-os, criando-lhes novas feições e construindo novos consumidores. Gerações preservam sentidos e o olhar atento percebe que as imagens arquitetadas funcionam como terapia. O ato de possuir transcende o visual construído e sua significação enquanto parte da realidade do sujeito.
               Autênticos cenários publicitários são montados, gerando novos significados e corpos, que são vendidos dentro de normas ditadas pela indústria mundial da beleza, condicionando e redesenhando hábitos. Observamos que infinitos referenciais se misturam para criar discursos que se institucionalizam e (re)produzem, através de elementos constitutivos, um certo número de procedimentos que possibilitam novas percepções.
            O universo globalizado da Moda acompanha atentamente esse processo e se apropria dos grupos geracionais surgentes e passa a trabalhar cada vez mais os conceitos da autoralidade. Na construção de um look autoral, o consumidor torna-se fonte de referência. Utiliza seu corpo como instrumento de comunicação de suas percepções do mundo. Alteridades são construídas e apresentam-se, a partir do look autoral, no intuito de provocação e de comunicação. A imagem construída passa a ser a verdadeira, fornecendo ao mercado aquela imagem perene que sobrevive e substitui o real.  
            É nesse cenário contemporâneo que o sujeito ordena comportamentos, materializando um complexo de referenciais, significando não só o indivíduo, mas a sociedade com todas as suas nuances. Ambos, indivíduo e sociedade determinam o conteúdo de uma variada configuração. Valores novos e experimentais são parâmetros para a constituição mercadológica, apesar da complexidade nas suas leituras e conseqüentemente nas suas traduções.
            Artifícios os mais variados, geram modelos e conteúdos que se convertem em disponibilidade de consumo, nos proporcionando variedades de novos símbolos, gerando novos significados e combinações simbólicas nunca antes pensadas, nos remetendo cada vez mais a padrões estilísticos futuristas. Transformando um futuro projetado no ideal do contemporâneo; delineando práticas e hábitos, onde formas emergem e refletem mudanças de mentalidades, revelando diferentes olhares do mesmo objeto, onde os discursos embutidos conduzem a muitos comportamentos que dominam ampla parcela da população.
         Num período de (re) definições a figura do consumidor autor aparece em todos os lugares. Povoa todos os grupos. Assume o papel de criador e idealizador de sua própria imagem. Marca com sua ‘grafia’ os modos pelos quais o sujeito ‘instala-se’ no planeta Terra.

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